Um dos filmes mais importantes, emblemáticos e difíceis de Tarkovski, O Espelho nos propicia diferentes reflexões profundas sobre a passagem do tempo, a soma, multiplicação e divisão de personagens em nossas vidas (ou na dele, no caso, já que o filme tem grande caráter autobiográfico).
Há diversas interpretações possíveis, seja por seus aspectos psicológicos ou poéticos, e por isso pode-se encontrar muitos ensaios e artigos sobre o filme
(um aperitivo seria o artigo do excelente crítico Luiz Zanin) ou no próprio livro de Tarkovski: Esculpir o Tempo.
Também há muitas considerações possíveis sobre a narrativa, que não tem um encadeamento linear, parece uma soma de imagens com personagens que se fundem e se dissipam, em belíssima fotografia, arte e som.
- um pouco como se dá no plano da memória ou dos sonhos, semelhante à narrativa de um dos escritores inspiradores de Tarkovski: o francês Marcel Proust.
Tarkovski também parece em busca de tempos perdidos em sua filmografia, em tom nostálgico seja com a infância - como em O Rolo Compressor e o Violinista; seja com a maturidade e a família - como em O Sacrifício; com a História - como em A Infância de Ivan; ou mesmo em relação a um tempo futurista - como em Solaris.
Falar sobre Tarkovski e seus filmes não é buscar afirmações e comentários pontuais, mas buscar questões, dúvidas, direções que o cineasta aponta.
Que sentimentos e dimensões aparecem difusos em seus pequenos-espelhos-filmes-poesia, ao mesmo tempo tão vagos e nebulosos, mas também tão amplos e profundos.
Poesia pura. Para "ler", "reler" e recitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário