Toni Venturi tem uma trajetória de filmes interessantes, criativos, comprometidos (O Velho, Latitude Zero, Cabra Cega, Dia de Festa, Rita Cadilac...).
E essas são as primeiras impressões de Estamos Juntos.
Fotografia excelente, me propondo pontos de vista diferentes e interessantes (enquadramentos realmente belos e surpreendentes); ótima montagem; ótimo trabalho com atores; roteiro criativo...
Um ponto de vista intimista sobre o cotidiano da jovem Carmem, vivida por Leandra Leal, uma médica residente que veio do interior para tentar a vida em São Paulo...
São Paulo que aqui é uma personagem bem desvendada e construída: em sua multiplicidade, praticidade, mistérios, correrias e o conflito e angustia que causa em muitos: sua grande quantidade de habitantes e a sensação de solidão que provoca em muitos deles...
Assim Carmem segue se relacionando com seus mundos: colegas médicos, enfermeiros, amigo de infância, amigo de amigo, amigo "estranho", etc

Seu entorno também começa com grande potencial: o mundo médico com pessoas cansadas, cheias de dramas e tensões em seu olhar (já que muito ñ é dito explicitamente, mas sugerido - situação pregressa entre ela e médico vivido por Marat Descartes ou história de vida da enfermeira vivida por Débora Duboc);
O mundo de agitos de classe média alta de seu amigo de infância também trazem vida, diversidade, cores e melodias, começando pelo amigo que está muito bem interpretado por Cauã Reymond.
E também passando pelo affair de Carmem com o roomate de Cauã, o argentino vivido por Nazareno Casero - que destoa um pouco do resto do elenco chegando a incomodar.
E também passando pelo affair de Carmem com o roomate de Cauã, o argentino vivido por Nazareno Casero - que destoa um pouco do resto do elenco chegando a incomodar.
Um terceiro mundo com que Carmem se relaciona é o de uma ocupação de sem tetos num antigo prédio no centro de São Paulo, ali ela faz palestras sobre saúde e se relaciona um pouquinho com o cotidiano daquelas pessoas de classe baixa (onde está Dira Paes).
Porém essa diversidade não é tão bem construída, elas não tem a profundidade do mundo de Carmem e acabam sendo um pouco caricatas e moralistas: a classe alta da futilidade e efemeridade e a classe baixa da humanidade e generosidade...
Essa construção quando realmente está se relacionando com Carmem contribui, dá profundidade e corpo à Carmem, mas quando quer ganhar vida própria só pelo espetáculo, me distancia profundamente...
É assim com a sequência de uma invasão do grupo de sem teto. Essa invasão, chamada de "festa" e muito bem narrada por Toni em seu documentário Dia de Festa, aqui se torna um apêndice e chega a enfraquecer o filme...
Por fim, Carmem também se relaciona com um homem que sempre aparece em sua casa. É com ele que Carmem estabelece seus momentos mais intimistas e poéticos, em diálogos realmente sensíveis e bonitos. Porém, outro deslize: o que começa com uma relação intrigante, misteriosa, profunda, logo se desvenda um artifício para expor os pensamentos e sentimentos da personagem, o que é aclarado na cena final de maneira bem rasteira...
Me faz ver com pesar pois até a primeira metade, o filme me parecia impecável e depois esses deslizes se sobrepoem um pouco às suas incontestáveis qualidades...
De qualquer maneira os méritos de Toni estão aí, suas escolhas temáticas conscientes e profundas, o ótimo desenvolvimento com atores, o trabalho parceiro e criativo com a fotografia, etc.
E seu progresso filmográfico também está aí!
E seu progresso filmográfico também está aí!
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