domingo, 22 de maio de 2011

Queimada! de Gillo Pontecorvo


Preenchendo lacunas cinematográficas (uma de tantas)...

Cinema é uma arte recente que parece tão acessível e tão possível de se alcançar (diferente da literatura, por exemplo, que nem se tem esperanças), mas essa é só uma falsa idéia... No cotidiano impossível não se perder em tanto passado e tão intenso presente...



Então às vezes sessões especiais são muito bem-vindas!

Queimada! é um filme forte, de assunto forte e reflexões profundas que podem ecoar até nosso presente...




A ficção explora realidades latinas de independências e abolições de escravatura, mas sua discussão acaba transcendendo a conceitos de poder, civilização, liberdade, mitos, mártires...


Num presente em que ouço muitas histórias de choques culturais entre a cultura indígena e a nossa, onde vejo a dificuldade de respeitarmos o outro sem termos um olhar ou de exotismo ou de paternalismo ou crítico de alguma maneira negativa... (mto bem refletido em Serras da Desordem de Andrea Tonacci)

E num presente em que acabamos de ver um líder - Bin Laden - ser assassinado (ou ao menos assim divulgado) e ser tratado com tamanha falta de humanidade e desamor... Não que se espere amor a um terrorista, mas o ódio a ponto do desejo da morte e de sua comemoração me parecem muito mais perigosos, beiram o fascismo... (nazismo esse recém defendido pelo grande artista Lars Von Trier e duramente criticado...)

Agora: por que não criticam veementemente Obama e os EUA pelo "feito" da morte de Osama?

Queimada! nos faz pensar nisso... Mesmo que já tenha mais de 40 anos e fale de fatos ocorridos há 200 (!)



Faz pensar em como a ambição do homem, suas "negociatas", sua falta de escrúpulos põe em risco o respeito aos outros, outras culturas, sua liberdade...



O que também me remete ao final de outra obra-prima, o premiadíssimo curta Ilha das Flores de Jorge Furtado:
 http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8

Seguimos então a tentativa de Mr.Walker de administrar os interesses de poderosos ingleses comerciantes de açúcar, portugueses colonizadores de terras latinoamericanas, interesses de escravos e ex-escravos africanos, simbolizados pelo grande personagem de José Dolores, etc.

Marlon Brandon é quem protagoniza o filme e contracena com Evaristo Márquez - um forte e interessante não ator.
A combinação é rica, e apesar de datada (os enquadramentos, movimentos de câmera, cores, ritmo, etc), tem seu impacto e faz pensar...



E sigamos nos preenchendo!!

Um comentário:

  1. O Walker me lembrou Eichmann, burocrata executor, e no encontro com Dolores (!Dorlores!) quebra com seu movimento ahistórico e faz a sua marca, exerce um tipo de liberdade, nessa apropriação de si além do manipular, passa obedecer-ouvir outro acontecimento além do vício, espanta-se com aquele que nao entra na sua lógica, na nossa cultura imperialista, nem para salvar seu corpo vivo.

    mas o filme é didático demais, aula de história, aponta pra boas discussões... não como obra...

    E sigamos seguindo o seguir...

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