domingo, 27 de fevereiro de 2011

José e Pilar - M.G.Mendes


Sempre interessante poder ter a oportunidade de ver bastidores daqueles que gostamos... Saber um pouco mais de Saramago, principalmente após a sua morte, tem uma emoção prazerosa...

Ainda mais porque vem em um documentário cheio das reflexões de Saramago e a jornalista com quem era casado, Pilar (já que no próprio filme reivindica mais do que o papel de "mulher").

O que fica mais forte pra mim é justamente um filme que retrata o fim de uma trajetória. Saramago já está debilitado e luta contra o seu fim. Luta de maneira consciente, como diz, não por temer a morte, mas por saber que é o fim, por tentar que dê tempo de realizar seus planos, seus desejos, (seu último livro - A Viagem do Elefante)...

E Pilar vem com a força de seu nome, pilar, dando força e sustentação a esses planos, mas tb colocando paradigmas... Afinal, o que é viver em busca de planos? O que são nossos sonhos? O q esperamos da vida?

Sem dúvida queremos uma vida cheia de realizações, mas a que custo? Desfrutar a vida, se dar ao direito de pequenos prazeres (caminhar, dormir, encontrar amigos, descansar...), também não seriam realizações?

Quem é essa mulher então ao seu lado? Aquela que lhe apóia e dá mais produtividade ou aquela que é controladora e lhe faz imposições de agenda e de ritmo?

Como vivemos essa contradição dentro de nós mesmo?

E o que esperamos do amor?

Ouvi comentários distintos a respeito do filme: uns que se surpreendiam com Pilar ao conhece-la (ver sua força, energia, importância) e outros se assustando (já que ela parece manipuladora e muitas vezes uma mera administradora de Saramago)... 

E tem um pouco das duas coisas, mas o que é nítido é o tamanho do carinho que Saramago sente por ela! Sentimos esse amor, em dedos que a afagam todo o tempo, na cumplicidade e até dependência durante as decisões e momentos de debilitação, me emociono com as declarações de amor a cada dedicatória de livro...

"A Pilar"
"A Pilar, meu Pilar"
"A Pilar, aquela que não havia nascido e tanto tardou a chegar"


O jovem diretor Miguel Gonçalves Mendes faz um retrato discreto, respeitoso, sem grandes interferências, mas delicado o suficiente para poder captar com proximidade esse momento tão intenso na vida do casal...

Momento de reflexão e despedida, que é o que fica para mim do filme...

Um comentário:

  1. Taí um filme que eu realmente quero assistir.
    Taí um pilar que eu gostaria de ainda encontrar na minha vida.
    Amo esses dois.

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