segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

o Cisne Negro de Aronofsky


Lembro ainda com muita presença de quando assisti Pi, de Darren Aronofsky.

Filme sobre um matemático paranóico em busca do enigma dos números... Para construir essa história Aronofsky conseguiu reproduzir um ritmo de pensamento, a sensação de paranóia, a obsessão, a angústia... 

E tudo com muito estilo: filmado em PB, com efeitos visuais interessantes... Tinha aí um filme original e bastante interessante.


Me deixou atenta ao cineasta, mas durou pouco, pois o seguinte, Réquiem para um Sonho, trazia a mesma competência de efeitos e recursos, mas utilizados em uma história caricata e extremamente moralista. Todas as personagens eram como vítimas de uma sociedade maléfica, todos corrompidos por uma sociedade consumista...


O filme era uma espécie de acusação a todos, mas ao mesmo de nenhum: todos bonecos estúpidos de um destino manipulado por... Aronofsky deixou a desejar...


O seguinte foi o controverso, mas elogiado O Lutador, que não vi... E agora veio sua mais recente estréia: Cisne Negro...


Curiosa para ver o filme após ler uma matéria sobre Natalie Portman... Revelação de talento infantil, candidata a bibelozinho de hollywood, mas muito mais estofo que a média... 

Formada em psicologia em Harvard, Natalie vai além dos papéis de boa moça, se entrega a diretores mais alternativos como Amos Gitai, em Free Zone, a raspar a cabeça em V de Vingança e em Cisne Negro se entregou literalmente de corpo e alma, numa dedicação intensa de um ano de aulas de balé...

Assim, segundo ela, incorporaria já a disciplina e rigidez da própria personagem diante da dança...

Cisne Negro retrata esse universo do balé clássico: o esforço físico e o mundo de testes, seleções, inveja, cobiça e afins... Situação de stress que pode levar a extremos perigosos... De um thriller psicológico, por exemplo... 

O filme começa bem interessante apresentando a personagem Nina Sayers e seu ambiente. Mas também não vai muito além, nem traz personagens inusitados: o diretor da cia sedutor, instigante, figura de atração e medo da bailarina. As companheiras mais soltas, muitas vezes invejosas, ou até já decadentes... Como a ex-grande dama da companhia vivida curiosamente por Winona Ryder. Outra personagem fundamental e chave na trama é a mãe da bailarina, que funciona como uma figura protetora, opressora e até limitadora desse patinho feio tentando ser cisne...

Aos poucos esses elementos de crise psicológica vão beirando o thriller... Aronofsky tenta seguir os passos do mestre Kubrick em O Iluminado, mas sem nem 1/10 do brilho... Ali há cenas d impacto, mas tb sutileza e originalidade, já aqui...

Da metade do filme em diante a loucura de Nina vai dominando o filme, que passa a ser um filme de terror... 

Há uma intenção interessante de misturar a ficção do balé com a realidade do filme que poderiam vir instigante e com incrível beleza, mas a estética do balé deixa a desejar... Apenas braços e pernas cruzando a tela e a forte expressão de Natalie (forte candidata ao Oscar 2011 inclusive).

O que aprendemos com Chico Buarque que "só a bailarina que não tem" fica ausente no filme...

O balé poderia ser muito mais, poderia nos inebriar e aí enriquecer a trama... Que acaba nos torturando, sufocando e terminando sem muita surpresa...
Mais competente que outros filmes do diretor, mas ainda na mesma coerência de mais barulho do que melodia... (nesse caso, literalmente).

Um comentário:

  1. Tão bom quando alguém escreve exatamente o que sentimos e não sabemos expressar, após ver um filme! Parabéns pelo blog. Posts sempre competentes e gostosos de ler.

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