terça-feira, 25 de maio de 2010

Dente Canino - Lanthimos

Nesse filme as pessoas falam grego!

Mas não é só, uma situação limite que chega a ser um pouco surreal, mas só um pouco, porque sabemos de fatos verídicos de pessoas encerradas em um espaço...
E também isso não é o que mais importa:

O que vale aqui é a construção das personagens, diferentes, intrigantes, em tempos, ações, enquadramentos, tudo que nos leva a um olhar realista, seja pelos silêncios, pelos gestos, ou por planos que desenquadram...


O ambiente fechado e os jovens fazem lembrar o brilhante "Pântano" de Lucrecia Martel, mas em um tom mais estriônico e europeu...

A violência também vai além, a psicológica, a física, a que reflete em quem está assistindo... Incomoda, mas faz pensar!



Onde estão os perigos do mundo? O que há dentro de nós? O que nos espera no lado de fora?



Kynodontas (Dente Canino) é um exemplo, de Yorgos Lanthimos, premiado em Cannes em 2009 choca com irreverência! Cada vez mais raro ver filmes que nos pareçam verdadeiramente diferentes, vale ver!!!

domingo, 16 de maio de 2010

Psicose do mestre Hitchcock

Difícil saber exatamente nos dias de hoje porque Psicose se tornou um clássico. Além de ser um filme com grandes qualidades artísticas, o que ele teria de excepcional?

Posso intuir que o carisma com que o início do filme é construído, nos aproximando da vida de uma jovem com sentimentos profundos numa situação difícil que se vê impelida a jogar tudo pro outro e tentar algo novo... O que?


Não chegamos a saber, porque o mestre também nos instiga e surpreende mudando completamente a trama. A jovem é assassinada e em cenas brilhantemente construídas, que estarão na história do cinema provavelmente pra sempre, já que a música e os gestos das facadas estão no imaginário mundial. 


E então o filme segue como um policial onde se tenta descobrir quem matou a bela. Thriller armado, em suspense puro. E ao final, uma outra volta, porque o filme deixa de se preocupar também com o assassino e se detem no porquê do assassino ter cometido seu crime.

Muitas camadas, muitas idas e vindas, muitas idéias lançadas.

Sigo com certa heresia cinematográfica de sentir que Hitchcock não dialoga muito comigo; não por não reconhecer seu talento, de maneira alguma, mas por não me envolver tanto tentando descobrir assassinatos e saber o que se passa. Em geral me interessam mais os porquês e ao final pra mim em seus filmes isso está um pouco desequilibrado, dividido com tantas ações brilhantemente construídas.

No meu imaginário também já está o chuveiro, o grito, a faca, o "nhim-nhim-nhim", mas já espero outros saltos que se possam dar, os tratamentos que podem ser dados em outras psicoses...


domingo, 9 de maio de 2010

Dead Ringers - David Cronenberg

Tinha grande expectativa com a obra de David Cronenberg, Dead Ringers, ou na interessante tradução brasileira: Gêmeos, Mórbida Semelhança.


E o que me distanciou do filme foi justamente isso: a morbidez... Seguramente um filme com uma trama profundamente envolvente onde dois irmãos que são gêmeos idênticos tem uma relação estranha com seus corpos - são médicos, ginecologistas e sempre ávidos por pesquisar o corpo humano e feminino. Essa pesquisa em conjunto também levam pra vida afetiva que levam, já que compartilham as mesmas mulheres, sem que elas saibam... Completamente mórbido! 

Mas essa união tem um limite, e eles tem rompantes de tentar buscar sua identidade... Um verdadeiro parto para eles...



Meu problema com o filme é que o sinto muito frio: não sinto nenhum carisma pelos protagonistas, nem mesmo pelos personagens secundários e acho tudo muito esquemático.




Desde os personagens que não saem de seus caráter esquemáticos, passando pela música que pontua e sublinha diversos momentos até a fotografia e direção de arte, que jogam o tempo todo com o contraste entre o vermelho e o azul, quase não havendo nenhuma outra matiz... 

Assim não sei se um pouco porque se datou e o assisti tardiamente, ou se porque realmente esse não é um universo que sou tão atraída para adentrar, mas sigo vendo Cronenberg com respeito, mas também com certa desconfiança... (confessando que também não sou nenhuma especialista, de forma alguma).

Podendo me divertir com "A Mosca", achar um pouco gratuito "Marcas da Violência" e aplaudir verdadeiramente "Senhores do Crime"...

sábado, 8 de maio de 2010

O cinema poético e comprometido de Ghobadi

Comecei a descobrir o cinema iraniano com certo "boom" que houve em São Paulo no final dos anos 90...
Filmes singelos e delicados que buscavam mostrar a poesia do cotidiano como "Balão Branco", "A Maçã",  "O Silêncio". 

Mas alguns filmes saiam dessa simplicidade... Fosse Kiarostami em seu tão profundo "Gosto de Cereja" ou Ghobadi que já em seu primeiro longa trouxe uma história também cheia de um cotidiano e realidade, mas com muito mais peso e drama... 



Na verdade, com mais tragédia, já que em "Tempo de Embebedar Cavalos" vemos a vida de uma família extremamente pobre e sem muitas perspectivas, onde uma das crianças tem uma doença grave e eles tentam buscar alternativas... Reviravoltas, tristezas, tentativas esperanças...





Não muito diferente de seu filme seguinte: "Tartarugas Podem Voar", que para mim é um dos filmes mais tristes que já vi...


Numa comunidade curda no Iraque, quase só há crianças entre os sobreviventes, e elas tentam seguir a vida em meio a toda sua fragilidade, suas feridas, sua responsabilidade antecipada, sua vontade de brincar, de acreditar, de ter esperança e tentar construir...


Parecem mesmo refugiados, num tempo e espaço esquecidos, para o qual o mundo se permite não dar atenção, deixar de lado, jogar regras de um jogo sujo...

E Ghobadi em uma ficção bem realista nos aproxima de uma história onde tartarugas podem voar, em explosões, sonhos ou imaginação... Vale a pena!

Por isso minha grande curiosidade com o último filme de Ghobadi: "Ninguém sabe nada sobre os Gatos Persas"... Outra chave, outro ritmo, outro ponto de vista...


Baseado em fatos reais e também jogando com um olhar documental, aqui traz um universo de cidade grande, Teerã... Onde um grupo de jovens músicos tenta espaço para produzir e divulgar sua música...

Personagens carismáticos, história simples e envolvente! Indie movie iraniano. Sempre rico conhecer outro universo, ainda mais porque tão distante do nosso latinoamericano... Mas dessa vez algo sobra... Ghobadi se divide entre contar a história da banda, de seu entorno e fazer um pequeno panorama do cenário musical iraniano e aí que se torna cansativo, porque vira quase uma série de videoclipes que nos distraem um pouco da história e não tem a mesma força que o intimismo com os personagens...

De qualquer maneira segue contundente, envolvente, cheio de dramas, melodias e pulsações...

Vale a pena descobrir mais sobre os Gatos Persas...



terça-feira, 4 de maio de 2010

Soul Kitchen de Fatih Akin

Fatih Akin é uma promessa da nova geração de cineastas que até agora não me decepcionou...
Começou com o potente e competente "Contra a Parede", em seguida veio outro drama de impacto: "Do Outro Lado", e entre os dois ainda havia um documentário musical...

Eis que surge então uma comédia musical: Soul Kitchen... 


Não chega a uma grande história como as anteriores, mas mais uma vez traz personagens muito interessantes, aqui explorados em um outra chave...



Faz um filme leve, irônico, divertido, cheio de carisma e ricos sabores saindo de uma cozinha com os tipos mais estranhos, gauches e outsiders...

Misturas de nacionalidades, tons, tipos e temperos...

Bonapetí!


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os jogos de sedução e de tempo de Julio Meden

Júlio Meden é um diretor de já respeitável filmografia, mas no Brasil, como acaba passando com grande parte da cultura iberoamericana, ignoramos a maior parte... Em grande parte por certa distância da língua... Que apesar de hermana, tem suas particularidades... Mas outro tanto porque acabamos consumindo mais os norte-americanos, ou enaltecendo mais aos franceses... E muitas vezes perdemos pérolas...

Nos dois filmes que vi de Meden: Lucia e o Sexo e Os Amantes do Círculo Polar, há uma grande inquietação em relação aos encontros e desencontros amorosos... As coincidências, as reminiscências, as perdições em tempo e espaço, a magia do sentimento e da narrativa ficcional...

cenas de 
Amantes do Círculo Polar


Em ambas as obras há uma sedução muito grande em sua narrativa: casting cuidadoso, boa trilha sonora, locações paradisíacas... E roteiros onde há premissas que instigam profundamente, que propõe viagens diferentes e atrativas, mas que em algum ponto se perdem um pouco... Excesso de casualidades, de idas e vindas... Tanto em Amantes do Círculo Polar como em Lúcia e o Sexo, o menos seria mais!
Ainda mais porque o mais poderia ser máximo, genial!

Ficam de qualquer maneira sementinhas e a curiosidade do que mais poderá vir...




domingo, 2 de maio de 2010

A Vida Secreta das Palavras - Isabel Coixet

A Vida Secreta das Palavras é um filme profundo e delicado... Acompanhamos uma protagonista silenciosa e com o peso de um segredo, que nos distancia, mas ao mesmo tempo nos intriga... Nos instiga a sabermos mais... Assim como o paciente que ela tem que cuidar como enfermeira... Falante e escondido através de piadas e palavras e mais palavras... 

A vida secreta aqui está tanto nas palavras ditas, como nas não ditas...

E os segredos são muitos...

A história é bastante envolvente... O roteiro, os atores... Mas algo na direção dá umas travadas... Acho que pra que fique tão construído esse silêncio e essas fugas de um personagem ao outro, em alguns momentos a história dá umas truncadinhas... Mas nada grave... Logo Isabel Coixet encontra novamente o fluxo e volta a contar a bela história que tem nas mãos... Ou na boca... Ou em seus olhos, que nos empresta por duas horas...