terça-feira, 7 de maio de 2013

Renoir - Gilles Bourdos



O diretor francês Gilles Bourdos se debruça sobre o final da trajetória do célebre pintor Auguste Renoir para fazer seu novo filme: Renoir.


A dedicação do pintor já bem idoso e debilitado, tentando driblar artroses e outros problemas de saúde;

Seu encanto com suas modelas e serviçais, em especial Andrèe, que também passa a encantar os filhos de Auguste, em especial Jean;


Suas opiniões sobre as artes, o ofício da pintura, a guerra, as relações pessoais...


Talvez nessas muitas frentes o filme se perca.

Pois além de tentar dar conta das fontes de inspiração desse grande artista e revelar seu lado duro, ressentido, machista, também quer dar conta das pessoas que estão ao seu redor.

O filme muitas vezes se concentra mais em Andrèe e depois no relacionamento dela com Jean e de ambos com as artes...

A semente do que viria a ser a carreira do cineasta Jean Renoir com Andrèe protagonizando os primeiros filmes.

Não sobra tempo para aprofundar.

As pinceladas do filme acabam opacas e a narrativa vai se assemelhando a uma novela de época, muito bem fotografada e com bela direção de arte por sinal.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Abismo Prateado - Karim Ainouz


Karim Ainouz teve sua estréia em longas-metragens com o vigoroso Madame Satã, seguido do poético O Céu de Suely

Teve também incursões pela TV e flertes com o documentário, como no híbrido Viajo porque preciso, volto porque te amo - já comentado aqui.

Agora estréia Abismo Prateado, baseado na canção Olhos nos Olhos de Chico Buarque.

Aqui a história de Violeta (vivida por Alessandra Negrini) que tenta assimilar um recado deixado por seu marido de ter a abandonado.

O filme começa apresentando as personagens de maneira misteriosa e intimista, em enquadramentos próximos e sem muitos diálogos e informações.

Começamos pelo conflito do marido, mas logo ele é totalmente abandonado e nos voltamos para a esposa.

Porém a narrativa contida nem sempre funciona, muitas vezes as ações parecem sem motivações, atropeladas ou superficiais.

As transformações pelas quais Violeta passa não se aprofundam como na música, mas temos belos momentos dessa construção. Em um frescor e originalidade raros. 

Principalmente pela decupagem, fotografia, montagem e algumas cenas de força e realismo - como o encontro de Violeta com uma menina.


Belas cenas mas num resultado irregular. 


segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Visitante Francesa - Sang-soo Hong


Mais um diretor sul-coreano que vem nos apresentar um outro tipo de lógica e tempo narrativo.


Assim como os instigantes Kim-Ki-Duk, de filmes como A Ilha, Casa Vazia, Time ou Sonhos - já comentado aqui

Ou Chan-Woo Park de Old Boy e Lady VingançaSang-Soo Hong subverte os tempos e as barreiras entre o possível e o impossível...

A Visitante Francesa apresenta diferentes versões para a mesma história, mas como em toda narrativa que faz esse jogo, o que é mais instigante é a maneira como as versões se somam e se tornam camadas na construção de personagens.

(lembrando de outras grandes obras que exploram o mesmo recurso, desde Rashomon de Kurosawa; Boca de Ouro de Nelson Pereira dos Santos em adaptação a Nelson Rodrigues; até mesmo Corra Lola Corra de Tom Tykwer)

A estrutura de cenas que se repetem e se modificam também nos dão a sensação de sonho, de lembranças que se mesclam e se confundem e vão nos tragando em uma trama ao mesmo tempo concreta e etérea...

(nos aproximando de narrativas como O Ano Passado em Marienbad de Alain Resnais ou no universo de Marguerite Duras - ambos franceses, por sinal, que Sang-Soo Hong provavelmente já terá visitado)

A ideia de etéreo também vem das paisagens de praia, da interpretação dos atores e da decupagem. 

E das ações que são mais narradas através de diálogos - e sempre truncados  marcando o contraste de culturas citado no próprio título do filme.

Ou da sugestão de cenas (do que pode ter acontecido dentro de uma barraca, por exemplo).


Um convite para uma visita que vale a pena se mergulhar...



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Hoje - Tata Amaral


Desde seus curtas, como Viver a Vida, Tata Amaral se mostrou ser uma diretora comprometida.


Seguiu assim com os longas, como o inaugural Um Céu de Estrelas

Os filmes foram seguindo uma temática atual e de realidade específica da classe média baixa brasileira, sempre abordando temas fortes e contundentes (violência, desemprego, brigas familiares etc).

Agora Tata se arrisca em um tema histórico, tocando sentimentos mais universais - apesar da particularidade da situação: os traumas do Golpe Militar de 64.

Hoje é um filme sobre como o ontem ainda repercute.

Um tema caro e ainda pouco abordado no Brasil (principalmente se comparado aos nossos vizinhos, em especial os argentinos).

A protagonista, Vera, muito bem interpretada por Denise Fraga - em uma chave dramática à qual estamos menos acostumados a vê-la, acaba de se mudar para um apartamento e tenta começar uma vida nova.

Na mudança, para os móveis que entram é preciso abrir espaço das lembranças do passado. E a metáfora é realmente concretizada em imagens e ação.

Muito lirismo nos diálogos que Vera tem com sua história - e seu (ex) companheiro Luiz (vivido pelo uruguaio César Troncoso).

Tanto no conteúdo das conversas, no qual entre fatos similares aos ocorridos na ditadura (militância, guerrilha, tortura, desaparecimentos, sequestros, assassinatos...) se mesclam o olhar subjetivo de quem teria passado por isso.

Em um único ambiente em caráter intimista, uma decupagem interessante e com um especial  trabalho de imagem, no qual grafismos e projeções funcionam muito bem, o tempo e o espaço vai sendo construído de maneira extremamente envolvente.

Talvez o filme pudesse ser um pouco mais curto para ser ainda mais impactante, mas de qualquer maneira é denso, profundo e tocante. Sobre o ontem, o hoje e o amanhã... Vale a pena o mergulho.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os Cinco Obstáculos (De fem benspænd - five obstructions) - Lars Von Trier e Jørgen Leth


Lars Von Trier é conhecido por sua mente inquieta e perversa.
Seja nas temáticas ou na forma como conduz suas narrativas (ou ainda nas declarações dadas em suas entrevistas).

Mas para o cinema isso rende grandes filmes, nos quais, ainda que não se goste, é impossível ficar indiferente.
Lars leva suas experimentações a extremos, seja sendo mentor do Dogma 95, uma das iniciativas pioneiras de se fazer filmes em outros custos e formatos (filmes rodados com câmeras digitais na mão em baixíssimo custo).


Seja nas experiências sem cenário de Dogville e Manderlay


Nas histórias traumáticas de Europa (um dos primeiros), Os IdiotasAnticristo ou Melancholia - já comentados aqui.

Também em flertes com diferentes gêneros, como no musical Dançando no Escuro.

eus jogos são explicitados por seu documentário Os Cinco Obstáculos, no qual convida um diretor dinamarquês que lhe inspirou muito, Jørgen Leth, mas que entrou em uma paralisia e ostracismo - como que a espera da perturbação de Lars (ao menos na versão do documentário).

Paternalismos e perversidades à parte, Lars realmente consegue instigar Jørgen Leth a recriar um de seus curtas - The Perfect Human - em diferentes formatos.

Lars lança novos parâmetros para a elaboração do filme em cinco novos obstáculos (cinco novos dogmas) e assim vemos um documentário sobre o processo de criação e as possibilidades narrativas cinematográficas.

Muito interessante para qualquer um que se interesse pela sétima arte e necessário para os que trabalham com ela!

Submarino - Thomas Vinterberg


Um dos principais nomes do Dogma 95,  o dinamarquês ThomasVinterberg é autor de grandes filmes como Festa de Família, Querida Wendy e o recente A Caça - já comentado aqui.


Sempre com temáticas conflituosas e personagens fortes, Vinterberg cria universos densos e intensos e nos traga para a reflexão.

É o caso de Submarino, de 2010.

Ali Vinterberg fala sobre dois irmãos tentando lidar com grandes traumas familiares do passado.

Morte, culpa, desafeto, raiva...

Os dois adultos seguem como duas crianças desamparadas e tentam buscar seu lugar no mundo, mas apenas conseguem se relacionar com outros "desajustados" (drogados, pervertidos, criminosos).

O filme poderia ser um festival de clichês exagerados, mas a frieza e naturalidade com que Vinterberg trata as personagens faz com que nos cativemos com a história e nos emocionemos com a agudeza dos fatos.


Excelentes atores, tempo preciso (respiros, montagem, planos, cortes), frieza na fotografia e no som...

Um resultado profundo, vigoroso e impactante, mostrando porque Vinterberg é um dos grandes nomes do cinema contemporâneo!