quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tropa de Elite - José Padilha

Em choque com o filme-fenômeno, tentei preparar meu arsenal para um ataque embasado, contundente, profundo...
Mas há tantas ambigüidades que vou ficar no nível dos desabafos e impressões mesmo...

O filme, assim como o primeiro, tem seus méritos: boas interpretações, ágil, envolvente... Carismas e talentos... Mas tem fragilidades e perigos... Principalmente pelo que se dispõe...

Não estamos apenas falando de aspectos fílmicos, estéticos, narrativos, estamos falando de um tema e discurso muito sérios! E com um diretor que sempre se pronuncia com muita propriedade e arrogância...


Dentre os méritos do diretor, José Padilha, enfatizo um industrial, de ter assumido, encabeçado e lucrado com a distribuição do filme, muito nobre ter enfrentado cartéis e ainda por cima para ter lucros! Genial! Que possa ser um exemplo a ser seguido: distribuir os próprios filmes e não deixar os lucros para distribuidores e exibidores!


Em seguida o filme extremamente competente que envolve a tantos, bate recordes de bilheteria e é sucesso nacional. Por isso mesmo uma responsabilidade da qual ele não pode se eximir...

No primeiro Tropa, Padilha dizia ter pensado o filme de maneira diferente, onde Capitão Nascimento não era o protagonista... Intenção ou não, o fato é que criou um filme cujo discurso é dado pela voz do protagonista, e é um protagonista extremamente carismático, com o qual nos encantamos e pelo qual torcemos, ou somos impelidos a... 

O problema é que esse protagonista q acompanhamos de maneira tão próxima também é fascista, que propaga em alto e bom tom que "bandido bom é bandido morto". Evidente que não é qualquer fala de um filme que faz parte de seu discurso, mas como esse tipo de jargão se tornou moda nacional com certeza é em parte responsabilidade dos criadores. 

A questão complexa onde se formaram quadrilhas e todo um sistema criminal (tráfico,roubos...), ñ tem solução fácil, ñ será simplesmente c/ sistema policial q reprima (pois é ineficiente), ou q mate (prefiro acreditar q superamos esse nazi-medievalismo).


Tampouco com organizações não governamentais que proponham programas assistenciais para que as pessoas possam ter alternativas de vida em meio à pobreza e à falta de perspectivas.

São ações e falas que fazem do filme algo leviano...


Tropa de Elite 1 nos mostra essa situação e nos leva a torcer pelo capitão que não tem paciência, não tem tempo a perder e propaga a eficiência anti-crime da caveira, da morte, do assassinato, do fascismo...

Me preparar para ver o segundo filme foi um grande exercício de abstração, pois o discurso do diretor Padilha e do ator Wagner Moura era de outras facetas, outros discursos, outros raciocínios...

O mais livre de preconceitos possível, lá fui eu...

De fato novos lados do mosaico-moeda, capitão Nascimento se aproxima do sistema político e passa a ver novas maneiras de tentar combater o crime. Bem interessante, mas...


Para mostrar o sistema político, Padilha se dispôs a mostrar também a corrupção do homem frente ao poder (realmente me pergunto se o homem é capaz de estar no poder e não se corromper, pois ainda não conheço exemplos possíveis... por mais que o socialismo seja mais justo ou que outros governos possam ser defendidos, nenhum ainda conseguiu essa nobreza). 

Capitão Nascimento vê então que através da política poderia tomar decisões para impedir crimes e dar melhores condições de vida às pessoas, mas diante de políticos corruptos, assassinos, ladrões, parece impossível. 

Mesmo com a presença de políticos honestos com falas coerentes, justas e sociais, pois é um discurso feito dentro de uma visão extremamente ingênua, quase patética (como se torna o personagem deputado Fraga).

Capitão Nascimento vem novamente com seu carisma nos fazer acreditar em seu discurso, suas palavras, seus atos, e age como um herói solitário, quase um cowboy do velho oeste que tem que fazer "justiça com as próprias mãos".

(inclusive bater, espancar, ameaçar e talvez até matar... porque é isso que esperamos numa continuação, ela venha a existir ou não, ela se dê dessa forma ou não)...

A humanidade dada a ele também com a (des)construção de sua vida pessoal tem uma narrativa fraca (com coincidências forçadas do novo casamento de sua ex-mulher) e não contribui muito.


Se o filme nos propicia pensar num futuro para o país, em alternativas para situações de crime, miséria e violência em que nos encontramos, não pode incentivar "justiças" desse tipo... Cada um por si matando a todos, onde nos levaria?



A política pode ter suas contaminações, seus percalços, seus equívocos, mas ser generalizada e ridicularizada como faz o filme, é um deserviço, principalmente em um país que já tem tendência a dizer que "político é tudo igual", que "votar não serve pra nada", etc.

Fortalecer esse discurso (e por coincidência no que foi um ano eleitoral) é irresponsável, e aí passo a essa crítica que é muito menos cinematográfica e mais de ideais de vida...

"Hay que endurecer pero sin perder la ternura", temos que combater, mas sem ser destrutivos... Nem matando como no Tropa 1, nem desqualificando como no 2... Haverá um 3 para um arremate redentor...?

Padilha instiga e estimula, então tomara que sim!
Mas que amadureça ainda mais... 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

o Cisne Negro de Aronofsky


Lembro ainda com muita presença de quando assisti Pi, de Darren Aronofsky.

Filme sobre um matemático paranóico em busca do enigma dos números... Para construir essa história Aronofsky conseguiu reproduzir um ritmo de pensamento, a sensação de paranóia, a obsessão, a angústia... 

E tudo com muito estilo: filmado em PB, com efeitos visuais interessantes... Tinha aí um filme original e bastante interessante.


Me deixou atenta ao cineasta, mas durou pouco, pois o seguinte, Réquiem para um Sonho, trazia a mesma competência de efeitos e recursos, mas utilizados em uma história caricata e extremamente moralista. Todas as personagens eram como vítimas de uma sociedade maléfica, todos corrompidos por uma sociedade consumista...


O filme era uma espécie de acusação a todos, mas ao mesmo de nenhum: todos bonecos estúpidos de um destino manipulado por... Aronofsky deixou a desejar...


O seguinte foi o controverso, mas elogiado O Lutador, que não vi... E agora veio sua mais recente estréia: Cisne Negro...


Curiosa para ver o filme após ler uma matéria sobre Natalie Portman... Revelação de talento infantil, candidata a bibelozinho de hollywood, mas muito mais estofo que a média... 

Formada em psicologia em Harvard, Natalie vai além dos papéis de boa moça, se entrega a diretores mais alternativos como Amos Gitai, em Free Zone, a raspar a cabeça em V de Vingança e em Cisne Negro se entregou literalmente de corpo e alma, numa dedicação intensa de um ano de aulas de balé...

Assim, segundo ela, incorporaria já a disciplina e rigidez da própria personagem diante da dança...

Cisne Negro retrata esse universo do balé clássico: o esforço físico e o mundo de testes, seleções, inveja, cobiça e afins... Situação de stress que pode levar a extremos perigosos... De um thriller psicológico, por exemplo... 

O filme começa bem interessante apresentando a personagem Nina Sayers e seu ambiente. Mas também não vai muito além, nem traz personagens inusitados: o diretor da cia sedutor, instigante, figura de atração e medo da bailarina. As companheiras mais soltas, muitas vezes invejosas, ou até já decadentes... Como a ex-grande dama da companhia vivida curiosamente por Winona Ryder. Outra personagem fundamental e chave na trama é a mãe da bailarina, que funciona como uma figura protetora, opressora e até limitadora desse patinho feio tentando ser cisne...

Aos poucos esses elementos de crise psicológica vão beirando o thriller... Aronofsky tenta seguir os passos do mestre Kubrick em O Iluminado, mas sem nem 1/10 do brilho... Ali há cenas d impacto, mas tb sutileza e originalidade, já aqui...

Da metade do filme em diante a loucura de Nina vai dominando o filme, que passa a ser um filme de terror... 

Há uma intenção interessante de misturar a ficção do balé com a realidade do filme que poderiam vir instigante e com incrível beleza, mas a estética do balé deixa a desejar... Apenas braços e pernas cruzando a tela e a forte expressão de Natalie (forte candidata ao Oscar 2011 inclusive).

O que aprendemos com Chico Buarque que "só a bailarina que não tem" fica ausente no filme...

O balé poderia ser muito mais, poderia nos inebriar e aí enriquecer a trama... Que acaba nos torturando, sufocando e terminando sem muita surpresa...
Mais competente que outros filmes do diretor, mas ainda na mesma coerência de mais barulho do que melodia... (nesse caso, literalmente).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um lugar qualquer (Somewhere) - Sofia Coppola

Sofia Coppola tem estilo: filma bem, tem histórias muito particulares, constrói climas, tem personagens sedutoras (e não no sentido clichê da palavra, mas de uma maneira mais intimista, mais própria, mais interessante).

Foi assim desde sua estréia com Virgen Suicides... Mas desde ali ela não me conquistou... A maneira como explora certa frivolidade, grandes ações vindas de motivações pequenas, mesquinhas, isso não mexe comigo...

No seguinte a história já me pareceu muito mais interessante: Lost in Translation (Encontros e Desencontros) conseguiu um ambiente onde a estranheza de Sophia Coppola se encaixava:

Tokio c/ Scarlett Johansson filmada lindamente e Bill Murray num papel ligeiramente diferente... Os tempos, a trilha, os enquadramentos, o ritmo... Fluiu, me cativou verdadeiramente! 

E me deu fôlego para o próximo: Maria Antonieta. Mas aí volto ao problema da falta de afinidade com os mesmos temas: a estética não me encanta tanto assim, um filme que conta a história de uma rainha que não sabia o que fazer com tanto dinheiro e possibilidades e que lidava com tédio diante de infinidades de roupas, comidas, festas... O tédio pra mim não chega como uma crise psicológica, acho o filme vago, pobre, sem graça... Nem Versailles salva! 

(E olha que quando vi o filme havia estado lá há pouco e só de lembrar dos espaços já era um super ponto positivo...)



Bom, vamos ao mais recente: Somewhere (Em Lugar Nenhum).
Novamente o tédio em relação ao glamour, dessa vez de Hollywood... Um galãzinho e sua filha... 

Se ensaia um tédio que resvala em uma depressão, que quase poderia ser interessante... Se ensaia conflitos reais em uma menina que vive em um mundo meio de faz de contas, onde não há limites para algumas coisas, mas não há referência para se poder sonhar... 



(E aqui vale a ressalva que a maneira como ela capta a vida e graciosidade dessa pré-adolescente  é um primor! Vem cheia de beleza, vida e frescor!). 


Talvez difícil julgar, pois deve ter muito de autobiográfico de Sophia, que desde pequena terá convivido com grandes atores, estado em distintos hotéis, sido paparicada de maneira exacerbada e fútil...

Mas como filme me instiga o universo, tento entrar, mas não consigo. Primeiro pois Sofia não vai além em seu retrato e isso acaba me aborrecendo, e depois que a construção de clima (com as interpretações, enquadramentos, montagem, trilha, etc) que começa estilosa, interessante, sedutora, aos poucos começa a me cansar e o que me afeta passa a ser afetação, o que é descolado, descola de mim... Como diria um amigo esse estilo "superbacana com melancolia super indie-cool-descolada" não me convence...


E sigo desconfiada até o que vier pela frente... Talento aí não falta, mas quanto ao estofo e densidade...
Sofia surgiu como menina, fazendo filmes de menina, mas no alto de seus quase 40 anos começo a ansiar por seu amadurecimento... Referências próximas não faltam a ela... O repertório do pai que o diga...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tetro - Coppola


Confesso que não sou especialista de Francis Ford Coppola e dos poucos que conheço posso amar e admirar Os Poderosos Chefões e Apocalipse Now, mas há vários que não dialogam tão intensamente comigo...


Tetro, por exemplo, começa o filme e fico embasbacada com o estilo e classe da direção: um branco e preto lindamente fotografado, trilha impecável, atores me instigando e seduzindo... Mas vai passando o tempo, cenas e cenas sendo sobrepostas e vou me cansando... Começo a achar a linguagem pesada, da trilha à interpretação.



Não diria que é um mau filme, nem por ser e nem pela heresia do meu gosto, o problema é só que não me estimulo a estar tão conectada, não penetro nas entranhas das personagens, que vejo serem complexas, profundas, intensas... 

Provavelmente não mergulho onde Coppola imaginou sua história, literalmente SUA, já que há vários traços autobiográficos... Talvez por isso também haja códigos um pouco fechados, cifrados, auto-referentes...


Não me conecto nem com situações mais cotidianas e intimistas que me soam inverossímeis de tão peculiares que são as personagens;


E me distancio no final com as peculiaridades e exotismos de flashbacks e momentos mais específicos dessa família desequilibrada que relembra o conflito entre dois irmãos músicos, repletos de ciúmes, invejas, arrogâncias... 


E dos filhos de um deles, que perderam suas mães e tiveram problemas com o pai, e se reencontram na charmosa Buenos Aires para tentar entender e superar o passado...



Parece que o passado pesa demais e é intransponível, seja na ficção ou na realidade... Meu palpite de psicologia barata...


O que importa é que, sem dúvida, vale a experiência!
Escassos os momentos no cinema para se admirar uma cinematografia, sentir a mão de um diretor e ainda assim querer cumprimenta-la! A benção, Coppola!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Além da Vida de Clint Eastwood


Definitivamente um cineasta que para mim é irregular. Capaz de filmes que considero grandes obras, principalmente pensando na filmografia recente que conheço mais,  como: Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro ou Gran Torino. Mas ao lado desses vem A Troca, Invictus e agora Além da Vida...



Fui já prevenida de ser um filme polêmico de pessoas que gostaram muito, se emocionaram e das que acharam um novelão ou filme B espírita...

Ou seja, fui bem neutra e aberta.

Me deixei envolver pela história de abertura do casal, as cenas pirotécnicas de um tsunami, a experiência de quase morte da garota. 

(Aí já começam minhas dúvidas sobre o filme, pois é um pouco brega, me fazendo lembrar de Ghost com Demi Moore e Patrick Swayze).



Mas sigo firme... Surgem mais duas histórias, a de um homem que tem um dom/maldição de se comunicar com os mortos. 



E de dois irmãos gêmeos vivendo uma situação difícil com a mãe usuária de drogas e coloca em risco a guarda sob eles, situação agravada quando um deles morre em um acidente.


Essas duas histórias tem grande potencial, mas que não é muito explorado, ou é explorado da maneira mais óbvia, permitindo que o espectador esteja sempre a frente de seus passos, sabendo o que vai acontecer e sem poder fazer suas próprias considerações.


O encontro das histórias também é feito de maneira simplória, com conclusões sem graça.  Mesmo o que já é questionável de tentar dar um viés científico à possibilidade de vida após a morte, (quando fala  de pesquisas sobre experiências de quase morte), mesmo isso fica solto e raso.


E se esse ponto tivesse mais força, talvez me permitiria comprar mais a história e ser mais complacente com resoluções medianas de roteiro...


Que Clint é um bom diretor, isso não resta dúvidas, quanto à sua relação com roteiros, aí já deixa mais a desejar, pois se envolve com os temas e os questiona pouco, criando filmes bem sem graça.
Pois a questão não é de maneira alguma problemas com o tema, ou Invictus teria tudo pra me entusiasmar, mas fica longe...

Talvez o que Clint faça de melhor mesmo é voltar o seu olhar para o universo mais próximo a ele: de homens durões se deparando com situações complexas:

O pai - Sean Pen - de Meninos e Lobos que perde sua filha; o treinador de boxe de Menina de Ouro - ele mesmo - que se apaixona pela menina e pratica eutanasia em nome desse amor; o americano rude e intolerante - o próprio - que vê seus preconceitos questionados a partir da amizade com vizinhos imigrantes; etc.





E que venham outros do velho e bom cowboy!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Árvore - Julie Bertucceli


Referências excelentes: direção de Julie Bertucceli, que é conhecida pela experiência como assistente do mestre Krysztof Kieslowski e como estreante com o simpático Desde que Otar Partiu. Sete anos depois escalou a ótima atriz Charlotte Gainsbourg para seu sensível roteiro A Árvore.

Motivações não faltavam, porém a história que fala sobre uma família que tenta se reestruturar após a morte do pai e as superações da depressão da mãe e a tentativa de resistência e superação das crianças é fraca. 


A família se apóia em uma árvore, pois uma das crianças passa a ver nela o espírito do pai, e a família toda passa a acompanha-la em ver naquele ser um símbolo da figura ausente.




A árvore passa a interferir em momentos decisivos da história: sua seiva cura feridas, seus galhos invadem o quarto da mãe, suas raízes destroem a casa e as tentativas de sequência na vida da família sem a presença do pai.

Porém o que poderia ser feito com sutileza e profundidade (como sempre fazia o mestre Kieslowski) acaba resultando em clichês, obviedades, falta de surpresa, sem gracice...

O filme não é ruim: tem momentos divertidos, bonitos, sensíveis, mas fica muuuuito aquém do que promete...


Mesmo nas atuações: Charlotte acaba repetindo um pouco do seu papel em Anticristo de Lars Von Trier (lá está em depressão assimilando a morte do filho, e aqui do marido, lá ela chega à loucura - em interpretação brilhante - e aqui apenas alcança a superação em situações mais cotidianas); 

As crianças tem sua graça mais pela vivacidade e carisma típicos de um bom casting infantil (em especial Morgana Davies); e a árvore, que tb funciona como personagem, que é incrível esteticamente, mas não tem a presença necessária...

O roteiro manipula todas as informações e mensagens transmitidas, e não fica nada para o espectador.

Não há muita margem para penetrarmos na história, para chegarmos em suas raízes e vermos o florescer de uma poesia. Fica uma novela bem feita, mas um tanto quanto inanimada... Acaba fazendo juz ao título, mas acaba semeando o desejo de que o próximo seja melhor...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Abutres (Carancho) - Trapero

Começar as críticas do ano com um filme tão pesado só vale a pena porque o filme é bem bom.
Pablo Trapero mais uma vez se afirma como um diretor competente e comprometido. 

Já mostrou um universo rico, cheio de tipos, que lembra Pequena Miss Sunshine, mas de forma mais profunda e interessante em Família Rodante. Na verdade lembra até mais o História Real de D. Lynch (apesar do foco aqui ser num tipo solitário, a excentricidade de maneira humana o aproxima da extensa família  de Trapero). 

Em seguida foi a vez de Leonera que apresenta um universo pesado de uma prisão mas pelo por um ponto de vista feminino muito amoroso. Cheio de conflitos, complexidades, angústias, mas de grande aprendizado. Uma grávida que tem seu filho na cadeia e passa pelo despertar da maternidade. Sensibilidade aguçada de Trapero, mas sem dúvida auxiliado por sua mulher, a atriz protagonista do filme, Martina Gusman.

Que inclusive é quem volta aqui em Abutres ao lado de Ricardo Darin.

A história aqui é um romance entre os dois em meio à máfia de seguros de trânsito na Argentina. Exploração, corrupção, coação, homicídios, chantagem, pobreza...
E a sensação de que não há saída, não há redenção, não há respiro...

Filme bom, mas chega a ser sufocante de tão sombrio. É assim não só pelo roteiro angustiante, mas também pela foto e arte escuras e densas, pelo som e montagem pesados...

Também pelas interpretações secas, de pessoas doídas, que sorriem reprimidamente em meio a dores (físicas e psicológicas) e não se permitem dar um respiro de alívio...

E assim que saio do cinema, sufocada pelo filme, com uma sensação ruim e paranóica... Ansiando poder entrar na sala ao lado e ver uma comédia romântica...



Porque esperança também é bom e necessário, até construtivo, eu diria. Mas claro que há momentos para tudo e não é por isso que tiro o mérito de Abutres, de jeito nenhum. Afinal há bastante espaço para carniças, mas também para borboletas por aí...