segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Questões Pessoais (Omor Shakhsiya) - Maha Haj



Estréia da diretora Maha Haj em longas-metragens, ela faz um filme simples mas simpático.

Questões Pessoais apresenta conflitos familiares: desde o desafeto e tédio crescente em um casamento de décadas;

passando por conflitos de um casamento recente e uma gravidez;


ou por um namoro onde se enfrenta o receio do compromisso.

Maha constrói a trama com bom humor, exagerando um pouco as situações e colorindo o cotidiano com detalhes particulares, humanos e divertidos.

A rede - Kim Ki Duk



O coreano Kim Ki Duk é um dos cineastas mais talentosos na atualidade para pensar premissas filosóficas e conceituais para seus filmes e narrativas poéticas e sinestésicas.

Filmes como A Ilha, Time, Sonhos ou Pietà - já comentados aqui - trazem questões chave como: a duração do amor, o ciúmes, a simbiose afetiva, as relações familiares etc, sempre em narrativas extremamente criativas.


Em A Rede, Kim Ki Duk traz a questão política da divisão da Coréia a partir da história de um pescador da Coréia do Norte comunista, que sem querer atravessa a fronteira e passa a ser investigado por supostas espionagens na Coréia do Sul capitalista.

O tom do filme varia entre a ação e violência (de forma tipicamente oriental), comicidade e tragicidade da situação kafkaniana e dramaticidade dos afetos familiares e relação que se forma entre o pescador e um dos policiais.

A leitura de todas essas nuances para nós de cultura tão diferente pode instigar, chocar ou provocar estranhamentos dependendo do momento. Muitas vezes não sabemos se a peculiaridade é do personagem ou da própria cultura, mas isso também é o que enriquece nos colocar diante da obra e desse outro mundo tão diferente. O cinema se prova um portal para viagens narrativas.

A Rede trata desde os absurdos de investigações policiais, a angustia da tortura, o desafio da palavra e da honra até os prós e contras de sistemas políticos:

a abertura e selvageria do capitalismo e as restrições e privações do sistema "comum", "igualitário" e por isso também propenso a corrupções.

Os pontos fortes do filme são a construção intimista da tortura, os contrastes entre capitalismo e comunismo e a simplicidade do protagonista.

Para ressaltar ainda mais essas qualidades, Kim Ki Duk poderia ter optado por uma narrativa menos didática e mais poética, pois quando o filme faz esses respiros, é capaz de momentos sublimes.

A Garota Desaparecida (La fille inconnue) - Jean-Pierre e Luc Dardenne


A dupla de irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne já bastante consagrada com seus filmes intimistas, densos e concisos como A Promessa ou O Garoto da bicicleta - já comentado aqui, apresenta um novo "caso" em A Garota Desaparecida.

Adèle Haenel conhecida por filmes como Aliyah e L'Apollonide: Os amores da casa de tolerância - também comentados aqui é uma médica em início de uma carreira promissora. Logo no início ela vive o dilema da carreira do quanto se envolver com os casos que trata.

Isso é colocado à prova quando deixa de atender uma campainha e a moça que a toca desaparece. 

A médica então muda um pouco suas atitudes e tenta compensar e reverter sua atitude, num novo papel  controlador, reparador e investigativo do caso.

O filme nos atrai a acompanhar bem de perto a trajetória da moça (num talento de direção que os Dardenne dominam muito bem e de maneira muito parecida com o belíssimo filme anterior Dois dias, uma noite), entretanto faltam elementos psicológicos que aprofundem a trama.

Diferente de outros filmes da dupla, que nos levam a diversas reflexões e lacunas instigantes, aqui a concisão deixa o filme um pouco plano. 

Não há crescentes, mudanças da personagem ou outras nuances, os coadjuvantes contribuem também com suas histórias, mas como aparecem de maneira um pouco estanque não trazem tantas curvas dramáticas à narrativa.

Faltam talvez mais variações das intenções dessa protagonista, ela ser mais confrontada e nos levar a mais emoções que nos aproximem da trama.