terça-feira, 25 de agosto de 2015

Casa Grande - Fellipe Barbosa


O jovem carioca Fellipe Barbosa, que já tinha se destacado no cinema com seus curtas, faz sua estréia em longas. Casa Grande é ousado e foi bem recebido pela crítica.

Como o título já sugere, coloca o dedo na ferida da desigualdade social do Brasil ao retratar uma família de alta classe em decadência no Rio.

As dificuldades que vão passando, a maneira como têm que se privar dos luxos que tinham e o modo como vão se aproximando das classes sociais mais baixas, aquelas que antes os serviam é bastante interessante.

A premissa é muito bem colocada e com o diferencial de trabalhar com diálogos e interpretações naturalistas, quase sem empostação.

Nem para todo elenco e cenas funciona (há diálogos extremamente simplistas e até precários), mas ao mesmo tempo resulta em sequências envolventes, divertidas e de grande frescor. 

O adolescente como protagonista também é um ponto positivo pela riqueza do momento de descobertas em meio a tantas reviravoltas.

O roteiro também não busca empostações ou rebuscamentos, as cenas vão se sucedendo umas às outras e cativam com isso.

Em algumas passagens há ações que sobram ou faltam, mas no geral o filme traz uma estrutura diferente e interessante.

Os outros elementos da linguagem também não têm grande rebuscamento: a decupagem, foto e sons são simples, que funcionam.

Talvez lapidadas a mais deixassem o filme mais especial, mas como estréia aponta um futuro promissor.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Sotto Voce - Kamal Kamal


O diretor marroquino Kamal Kamal é um dos destaques da 10a Mostra Mundo Árabe de Cinema em São Paulo.

Com seu filme Sotto Voce ele acompanha os relatos de um senhor sobre suas memórias do período da Guerra da Argélia (1954-62), quando, com um grupo de argelinos, tenta cruzar a fronteira entre Argélia e  o Marrocos, eletrificada, minada e vigiada,

Interessante poder se aproximar de outra cultura e conhecer referências distintas. Mas, nesse caso, difícil acompanhá-las.

Há um excesso de informações, linguagens e abordagens e a mistura ao invés de enriquecer o filme, o empobrece. Apesar de todos os excessos, na verdade a narrativa é rasa e ingênua.

Primeiramente se apresenta a história de uma jovem violoncelista que é violentamente atacada e em sua recuperação se aproxima de um senhor que é seu vizinho.

Nessa introdução já entramos em contato com uma narrativa simplória (em ritmo, metáforas e, principalmente, interpretação).

Entramos então na história dentro da história e aqui o gosto do diretor pela música (afinal ele também é compositor) muitas vezes se sobrepõe ao drama.

O protagonista talvez seja uma espécie de alterego do diretor, pois é um aficionado por ópera e quer treinar jovens surdos a cantarem.


Entre os jovens está uma garota que ao ser abusada se vinga e é condenada, mas consegue-se escapar.

E aí que esse grupo se une a um revolucionário marroquino e todos se unem para tentar desativar algumas minas e chegar ao Marrocos.

Muitas perdas nessa tentativa e o relato de culpa por parte do senhor sobrevivente.

Falta um posicionamento mais definido dessa narrativa em termos políticos e dramáticos.

Falta uma definição maior também se ao diretor apetecia mais fazer uma ópera do que um filme.

Ou talvez também falte um envolvimento maior com a cultura árabe para poder compreender melhor. Seja como for, fica a desejar...

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Rainha & País (Queen and Country) - John Boorman


O experiente cineasta inglês John Boorman lança um novo filme após oito anos de jejum e retomando história, personagens e um cenário autobiográfico.

Em Rainha & País vemos o jovem Bill diante do país em guerra. Ele é convocado pelo serviço militar, mas não vai a campo, fica na base desenvolvendo trabalhos burocráticos, ao lado de seu melhor amigo Percy.

Ali têm uma atitude contestadora, mas com certo humor (inglês), irresponsabilidade e displicência (parecendo mais infantis até do que de fato são).

Bill também vive os conflitos da puberdade: desejo, atração, paixão...

E, nos romances em que se envolve, alguns temas são lançados: medo da entrega, decepção, depressão, ciúmes, fidelidade, incesto...


Assim também entram situações e questões familiares do protagonista.

As bases do filme são ricas e interessantes, já a maneira como usa suas armas de direção, fica a desejar e o filme passa sem que as cenas definam ao que vieram.

Falta um melhor desenvolvimento da trama, clímax nas cenas e conflitos, aprofundamento dos temas.

Talvez se conhecendo melhor sua cinematografia seja mais fácil se envolver e captar a chave da narrativa. Apenas por essa Rainha e esse país, tudo parece frouxo...