Apesar de uma carreira com diversas realizações, principalmente de curtas-metragens, o diretor inglês Steve McQueen se destacou em 2011 com Shame, em que se aproxima de maneira ao mesmo tempo íntima e contida do personagem Brandon, vivido por Michael Fassbender.
Michael é um executivo bem sucedido, que parece destacado entre seus colegas, ou mesmo diante de sua irmã, que recorre a ele para se abrigar em sua passagem por NY.
Porém não há brilho nesse sucesso - o que é visto inclusive pelas cores pálidas e cinzentas do filme.
Nada irradia no filme, nem luzes, nem sorrisos, nem olhares... Raros são os momentos em que algo brote da selva de pedra da cidade grande, por isso a cena em que sua irmã canta tão cheia de sentimentos transborda na tela.
E o mérito do filme é justamente a economia, quase nada é dito, mas há muito revelado: o vazio da vida de Michael e a maneira como ele tenta preenchê-la quase pode ser sentido.
Suas perversões e vícios sexuais aparecem e refletem não o excesso (de seus desejos, atos ou o que quer que seja). Eles refletem a escassez (afetos que se intuem desencontrados em sua vida, desde a infância).
Nos envolvemos com esse vazio e a espécie de paralisia dos personagens principais e mesmo sem ter muitos dados sobre o contexto tudo fica dentro de uma organicidade, intimismo e densidade instigantes.
McQueen não alivia, não há qualquer redenção para os vícios, perversões e aprisionamentos. Poucas buscas, poucos sentimentos, mas uma medida precisa para nos apresentar sua história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário