segunda-feira, 1 de junho de 2015

O Sal da Terra (The salt of the earth) - Wim Wenders & Juliano Ribeiro Salgado



Wim Wnders é um cineasta irregular capaz de fazer obras-primas como Asas do Desejo ou Paris Texas - já comentado aqui, mas também capaz de filmes de questões interessantes mas que resultam mais confusos ou simplórios, como os recentes Land of Plenty, Palermo Shooting ou seu segmento em Mundo Invisível - também comentado aqui.

Wenders em geral se mostra como um grande observador do mundo em que vive, seja retratando dramas profundos e filosóficos, mas também retratando grandes artistas que conhece e admira, como o grupo cubano Buena Vista Social Club, a bailarina e coreógrafa alemã Pina (em documentário também presente por aqui) e agora o fotógrafo Sebastião Salgado.

O Sal da Terra mostra a bonita e tocante trajetória de Salgado, dirigida por Wenders e pelo filho do fotógrafo, Juliano Salgado, que juntos recompõe a vida do artista e acompanham seus trabalhos recentes.

Um dos méritos do filme é nos aproximar do tom da obra de Salgado (tanto das matizes de seu preto e branco, quanto do tempo de contemplação a que nos leva). 

Entretanto o filme não vai muito além da documentação. Não aprofunda questões extremamente densas presentes na vida de alguém que registrou cenas-limite de miséria, injustiça e sofrimento.

O filme cita que essas vivências o adoeceram, mas não problematiza nem como, nem quanto.

Também cita dificuldades de sua vida particular e doméstica: longos períodos de distância de sua casa e de sua família e o nascimento de um filho com síndrome de down, por exemplo, mas a maneira como isso pode ter repercutido em sua vida fica mais a cargo do espectador.


Inclusive podemos reviver o desespero do fotógrafo a nos deparar com suas fotos de pessoas à beira da morte, mas não compartilhamos do desespero dele...


O Sal da Terra traz mais a dimensão das linhas, curvas, luzes, sombras e muito menos a dimensão dos temas de Salgado e sua psicologia.

Uma pena, pois aí deve habitar uma imensidão muito mais tocante que montanhas, geleiras e florestas e que nos faria querer acompanhar mais de sua obra (que ainda é viva e ativa). 

Da maneira como colocado no filme tudo já parece estar resolvido: Salgado se aproximou ao máximo da morte (morte física de pessoas e povoados e também da civilização e da paz) e depois se recompôs através da vida (reflorestando amplas terras de sua família e fotografando a fauna, flora e paisagens). 

Uma trajetória nobre e admirável, mas que nos faz pedir mais, inclusive desse documentário...

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