quinta-feira, 10 de maio de 2012

Fellini e seus filmes alegóricos


Adentrar no universo de Federico Fellini é adentrar as suas referências de vida: desde passagens recorrentes que se pode imaginar de inspiração autobiográficas, como o circo, por exemplo.

Ou a presença de mulheres fortes em sua vida, e seu imaginário feminino, de desejos despertados, reprimidos, recalcados e realizados desde sua infância.

(Como podemos ver claramente em Amarcord, 8 e 1/2 ou no já comentado aqui: Cidade das Mulheres ou mesmo de maneira mais discreta em filmes com outro foco como Roma).



De maneira geral, não só em figuras e passagens específicas apontadas em praticamente todos os seus filmes, a sexualidade é um tema caro ao mestre italiano.

Figuras históricas e mitológicas presentes em filmes como Casanova e Satyricon, que trazem diversas questões abordando o sexo, o desejo, a fidelidade, as perversões, as fantasias...

E para a culpa de tantas questões polêmicas vem a religião.

Outro tema bastante presente em sua filmografia, perfeitamente justificado pela forte presença da igreja na Itália e toda opressão provocada em cidadãos italianos críticos como Fellini.

Essas diferenças com a prática religiosa cristã transparecem em Amarcord e pontuam o final de Roma:

No qual se vê a rasidade, falsidade e hipocrisia de grande parte da igreja católica (representados em Roma por um desfile de moda com trajes para padres, bispos e cardeais).

As críticas à opressão, hipocrisia e falta de liberdade são bem entendidas dentro de um contexto do pós guerra e fortalecimento do fascismo vivido na Itália, e constantemente retratado, citado e sugerido nos filmes de Fellini.

Isso sem falar na própria arte e seus temas metalinguísticos, muitas vezes construindo microcosmos (como em E la nave va e Ensaio de Orquestra) ou colocando o próprio tema da criação em questão, (como em 8 e 1/2...)


Com essas e tantas outras questões em mente, muitas vezes os filmes de Fellini resultam grandes colchas de retalho, vários temas trazidos em alegorias, com exagero e em caricaturas (também influência circense), sem a verossimilhança do neorealismo italiano por onde começou.

(De onde se entende filmes como Noites de Cabíria, também comentado aqui), mas com uma verdade que pulsa como em poucos artistas.

Talvez por isso mesmo Fellini tenha sido tão reconhecido nacional e internacionalmente, entre críticos de todas as partes (ganhou algumas palmas em Cannes e algumas estatuetas da Academia Americana) e entre o público.




Salve Fellini!

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