Preenchendo lacunas cinematográficas (uma de tantas)...
Cinema é uma arte recente que parece tão acessível e tão possível de se alcançar (diferente da literatura, por exemplo, que nem se tem esperanças), mas essa é só uma falsa idéia... No cotidiano impossível não se perder em tanto passado e tão intenso presente...
Queimada! é um filme forte, de assunto forte e reflexões profundas que podem ecoar até nosso presente...
A ficção explora realidades latinas de independências e abolições de escravatura, mas sua discussão acaba transcendendo a conceitos de poder, civilização, liberdade, mitos, mártires...
Num presente em que ouço muitas histórias de choques culturais entre a cultura indígena e a nossa, onde vejo a dificuldade de respeitarmos o outro sem termos um olhar ou de exotismo ou de paternalismo ou crítico de alguma maneira negativa... (mto bem refletido em Serras da Desordem de Andrea Tonacci)
E num presente em que acabamos de ver um líder - Bin Laden - ser assassinado (ou ao menos assim divulgado) e ser tratado com tamanha falta de humanidade e desamor... Não que se espere amor a um terrorista, mas o ódio a ponto do desejo da morte e de sua comemoração me parecem muito mais perigosos, beiram o fascismo... (nazismo esse recém defendido pelo grande artista Lars Von Trier e duramente criticado...)
Agora: por que não criticam veementemente Obama e os EUA pelo "feito" da morte de Osama?
Queimada! nos faz pensar nisso... Mesmo que já tenha mais de 40 anos e fale de fatos ocorridos há 200 (!)
Faz pensar em como a ambição do homem, suas "negociatas", sua falta de escrúpulos põe em risco o respeito aos outros, outras culturas, sua liberdade...
O que também me remete ao final de outra obra-prima, o premiadíssimo curta Ilha das Flores de Jorge Furtado:
http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8
http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8
Seguimos então a tentativa de Mr.Walker de administrar os interesses de poderosos ingleses comerciantes de açúcar, portugueses colonizadores de terras latinoamericanas, interesses de escravos e ex-escravos africanos, simbolizados pelo grande personagem de José Dolores, etc.
Marlon Brandon é quem protagoniza o filme e contracena com Evaristo Márquez - um forte e interessante não ator.
A combinação é rica, e apesar de datada (os enquadramentos, movimentos de câmera, cores, ritmo, etc), tem seu impacto e faz pensar...
Trecho de aperitivo: http://www.youtube.com/watch?v=hSTl7HUXQnI
E sigamos nos preenchendo!!