Um dos filmes mais difíceis de comentar dos últimos tempos pra mim...
Não captei totalmente a mensagem e ponto de vista do filme e isso me causa distância e estranheza...
Um jovem vai para uma prisão na França e vivencia a violência e corrupção dentro do sistema carcerário. Brigas entre facções, tribos, etnias, máfias... Compra de guardas, chantagens, coações, assassinatos...
Histórias e situações bem familiares pra quem é do país do Carandiru (seja o filme, ou pior, a realidade)...
Neste ponto o filme é bem interessante, pois é cru, realista, não doura a pílula e é bem pesado, Jaques Audiard sabe usar os enquadramentos, a escassez de trilhas, as interpretações, a montagem, etc, nesse sentido, fazendo jus à uma realidade dura e complicada.
Isso tudo nós acompanhamos a partir do ponto de vista do protagonista, descendente de árabe que vive as dificuldades e preconceitos pela sua etnia.
Mostra crimes que ele tem que cometer para ter aliados dentro da prisão (ou menos que isso: não ter inimigos);
E mostra o esforço dele em se dar bem, seja aprendendo a escrever, na malandragem de dentro da prisão (onde vemos que o "jeitinho brasileiro" não é tão brasileiro assim);
Ou em crimes profissionais - quando começa a ter permissão para saídas pontuais da prisão.
O filme parece ser bem pouco tendencioso, e tenta mostrar tudo da maneira mais neutra e próxima ao protagonista possível.
Mas isso pra mim parece ter um custo e que chega a comprometer o resultado do filme. Durante sua trajetória ele vai aprendendo a jogar os jogos das diferentes "gangues" e assim, na malandragem, vai crescendo, "se dando bem", até cumprir sua pena...
Realista não mostrar alternativas, nem ambições mais nobres, aceitável também apresentar que alguém possa conseguir contornar todo o sistema criminoso e sair ileso depois de seis anos de detenção, mas que reflexões nos deixa esse final?
(ainda mais pq ainda o coloca tendo uma relação onde recebe "profecias" de um morto no presídio).
Na saída de O Profeta, pensei muito em Cidade de Deus, por exemplo, onde também vemos personagens tentando jogar jogos, mas que acabam sendo vítimas de suas próprias regras e enrascadas, aqui acabo refletindo muito mais sobre situações desoladas e sem saída... ("se correr o bicho pega, se ficar...")
Acabei assim pensando também em outro filme brasileiro: Tropa de Elite, por nos fazer identificar com um protagonista e de certa maneira torcer por ele, e assim nos incentivar a torcer por atitudes de violência, vingança, intolerância, crimes e outras situações totalmente questionáveis...
Não acho que o caso de O Profeta seja tão fascista como Tropa de Elite, mas também não consigo inocentá-lo quanto a uma displicência na apresentação dos pensamentos e sentimentos de quem vive a realidade carcerária de dentro...
Para mim mais profundo seria abordar a culpa, a dor, a indignação. O que a frieza da abordagem de Jaques Audiard não permitiu. Fica uma tentativa documental, longe do brilhante
Prisioneiro da Grade de Ferro, fica mais um registro do sistema carcerário francês, sem uma mensagem mais interessante...
Mas sigo digerindo, quem sabe ainda não mude de idéia... para cá ou...