quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As Melhores Coisas do Mundo - Laís Bodanski

Laís Bodanski não é uma cineasta daqueles talentos inacessíveis, seu mérito parece justamente o inverso: parece tão simples, mas tão sensível, tão interessante, tão comprometida...


Trata de assuntos cotidianos, mas traz questões importantes de serem debatidas: em seu primeiro longa vieram as drogas e a situação manicomial;

 na seqüência um documentário que na verdade era o registro de um projeto incrível de se levar cinema a cidades que nunca tiveram acesso;


no terceiro faltou um pouco mais de ritmo para fazer o registro da terceira idade;

mas agora sobrou precisão pra falar do universo adolescente atual...



Em duas horas Laís consegue falar de coisinhas do cotidiano de como se portar no ambiente de disputas de popularidade, busca de identidade, comparações, piadas que são as escolas. Fala das novas ferramentas desse ambiente, não só a sala de aula, mas também a internet em seus blogs, chats, e afins. Os desabafos em escritos, conversas, canções.

Momentos pontuais importantes como a primeira vez, separação dos pais, relação com homossexualidade, com política, com a imagem, amor platônico, o fim do primeiro amor...

Momentos importantes mas que ficam pra sempre como construção de personalidade, amor, perda...


Se as melhores coisas do mundo são as melhores, eu não sei, mas proporciona duas horas intensas...



Tanto para minhas irmãs de onze anos que as consumiram entretidas com muitas ansiedades e questionamentos até a mãe delas já tendo que lidar com as mesmas questões a partir de outro ponto de vista...




E passando por mim, ainda num meio de caminho, que me deixa cheia de nostalgia e curiosidade...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cerejeiras em Flor (Hanami) - Doris Dörrie




Um filme sensível sobre a cumplicidade de um casal de terceira idade mesmo após a morte. Os encontros e desencontros possíveis na presença ou na ausência... 

A rigidez de uma vida em uma rotina cinza, a ameaça de doenças fatais, o resgate de convivências que vão se perdendo, a importância das relações, a relação ocidental X a relação oriental com a morte e os sentimentos...


O mais bonito, o mais poético vem nas respostas finais do butô: a dança das sombras!
A dança dos movimentos não de onde se originam, mas onde se refletem... O reflexo das pessoas umas nas outras... 

Não é que seja genial, surpreendente, extremamente criativo ou nada do gênero, mas é bonito, realmente bonito, faz pensar...  

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Belle Toujours - Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira é alguém pra se invejar, afinal quem que chega aos 102 anos dirigindo cinema em plena forma? Confesso que realmente fiquei impactada ao vê-lo pessoalmente há três anos andando perfeitamente, escutando, falando e com filmes tão lúcidos e profundos.

Como Filme Falado, que embora tenha uma linguagem estável e que talvez possa ser vista como antiquada, mas com uma profundidade e competência pra tratar de temas tão contemporâneos como contrastes de culturas e terrorismo... Sem falar no saudosismo de alguns do passado, como seu primeiro, o singelo Aniki Bobó!

Então esses dias vendo seu nome na cartelera, fui ver Belle Toujours... Curiosamente eu já havia visto na Mostra de SP, mas com o título traduzido Sempre Bela, não me dei conta e acabei revendo! O que também foi muito interessante! 

Confesso que o filme não me agradou tanto, pois tem uma rigidez na direção que não me deixou envolver: não pelos planos fixos e falta de ações - características com as quais não tenho quaisquer problemas - mas pelos diálogos teatrais, artificiais, onde as pessoas soltam pérolas repentinas, não respondem ao que se pergunta, se chocam com coisas banais, lidam com naturalidade com coisas exóticas... Enfim...

O que fica pra mim como qualidade e estímulo é o que se deve à homenagem ao excelente Belle de Jour de Buñuel, a proposta de Manoel de seguir a trajetórias de personagens que seguem dentro de nós ecoando por tantos anos e colocá-los assim em um filme: ecoados, vivendo e revivendo sua história em Belle de Jour... O que pode parecer banal aqui vem com criatividade e faz ecoar o desejo de ver e rever o clássico...


E imagino que assim esse filme cumpra seu principal papel! Clássicos homenageando clássicos! Pequeninos que somos nós!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Whatever Works - W.Allen


Há diretores que mesmo em seus filmes ruins nos divertem... Isso acontece quase sempre entre mim e Woody Allen, e pra quem tem uma cinematografia tão intensa e extensa é mesmo um feito!


Mas verdade seja dita que Whatever Works é bem morno. A história é de uma caipira entusiasmada e otimista descobrindo a vida na cidade grande e entrando em simbiose com o alterego de woody - o judeu-novaiorquino-intelectual-mal-humorado. Mais personagens ao redor, como facetas desses mesmos tipos e suas possibilidades de transformação...





O filme abre com um jogo metalinguístico do ator falando para a câmera que a mim não envolve, ao contrário, distancia! E tem uma história que demora a deslanchar... 

Mas tem personagens simpáticos, tem muito bons atores, tem uma trama redonda, então Whatever Works nesse caso se traduz como "Até que funciona"...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quincas Berro D'água - Sérgio Machado


Sérgio Machado estreou na ficção com o instigante Cidade Baixa, recebeu muitos prêmios e elogios e desde então se manteve na calada da noite... Voltou agora, cinco anos depois, com Quincas Berro D'Água.


Sempre retratando o universo baiano, soteropolitano, mas aqui em uma chave completamente distinta. Ao contrário da realidade crua, da miséria e do pessimismo, Sérgio Machado aqui se baseia na obra de Jorge Amado pra trazer personagens cômicos, coloridos... Gauches também, mas no estilo da malandragem e da fanfarrice... Se acaso há miséria aqui, o otimismo a salva!

Filme com ritmo e tempero (como um bom registro baiano), mas que para alguém tão paulistana como eu falta algo... (talvez a pimenta e o atabaque tenham sido muito comedidos). 

Fica a simpatia, o reconhecimento da competência da narrativa, mas ficam algumas lacunas, algumas histórias muito reiterativas, parecendo mesmo que se basear num conto para fazer um longa-metragem fica faltando material...

E olha que sobram talentos, por exemplo dos atores! Paulo José um exemplo, Marieta Severo, Mariana Ximenes, o global Vladimir Brichta funciona muito bem, participações como de Milton Gonçalves, Othon Bastos, Luís Miranda, etc...



Singelo e saboroso, parabenizo a iniciativa, mas fico no aguardo de um próximo para a prova dos nove... 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Death Proof - Tarantino



Não há como negar o talento de Tarantino: imagens sedutoras, ritmadas, diálogos criativos e envolventes, personagens enigma e carismáticos, decupagem, trilha, arte, foto...





O cara sabe trabalhar com suas referências pop e fazer misturas geniais, dar um ar cult ao trash como poucos! Sabe brincar com as narrativas, construir e desconstruir roteiros - desde suas primeiras experiências como Cães de Aluguel e Pulp Fiction, até mais recentes, ou nem tanto, como Kill Bill!


Ir ao cinema vê-lo é sempre garantia de entretenimento, mas confesso que para mim também ficam ali registrados aqueles momentos, mas não levo mto pra casa...


Foi assim com seu mais recente: "À Prova de Morte": jovens e belas mulheres em diálogos corriqueiros (e machistamente banais), com comentários saborosos (como sempre em Tarantino, provado em seu antológico sobre mac donald's em Pulp Fiction), em situações inicialmente normais, instigando pra onde vai nos levar e realmente nos surpreendendo, pois vai perdendo seu lugar realista e se tornando uma grande aventura totalmente fictícia... 



Moças e donzelas tontamente estonteantes indefesas contra um terrível e enigmático vilão, freado por novas donzelas, já não tão indefesas...


Exemplos de contra-cultura tarantinesca! Jogando com a sociedade de consumo em jukeboxes, outdoores, peepshows, sexo, drogas e rock'n'roll!

O ritmo e a estética divertem também pelo "setentista" do visual... Nos coloca em outro tempo e espaço, seriados televisivos de ação e aventura...


"Filme de menino" ouvi dizer, e talvez faça sentido, mas também me entreteve... Por as duas horas na sala, depois saio e já esqueço... Fica o registro do talento do Tarantino, me deixando sem grandes lembranças quando volto pra casa, mas com a certeza de que voltar ao cinema por ele renderá alguma recompensa!