sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma família em Tóquio (Tôkyô kazoku) - Yoji Yamada


O diretor japonês Yoji Yamada, inspirado pelo cinema do grande mestre Ozu, fez um bonito retrato de Uma família em Tóquio.

Várias personagens, gerações e questões tratadas de maneira divertida e delicada e bastante oriental.

Para ocidentais pode ser difícil ver tanta graça nas piadas, interpretações e diálogos que às vezes beiram maneirismos;

Ou entender a estrutura patriarcal sem se incomodar com questões machistas e hierárquicas;

Ou ainda a maneira como se comunicam (que muitas vezes parece não se comunicar inclusive)...

Situações que ao longo de todo o filme provocam estranhamentos, mas que não é o que mais fica do filme.
O filme marca pela poesia, pelas lições de aceitação e de afeto.

Na visita de um casal aos seus filhos que vivem em Tóquio, em uma vida de estilo e ritmo completamente diferente do deles, mais rurais e pacatos.

Os senhores ora parecem estorvar, ora ficam alheios, mas ao final acabam se entrosando profundamente e mostrando a força dos laços familiares.

Mais um exemplo da cultura oriental construindo mensagens por metáforas, entrelinhas, silêncios, poesia...
Belo exemplo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Quando eu era vivo - Marco Dutra


Quando eu era vivo é o segundo longa de Marco Dutra, após Trabalhar Cansa - já comentado no blog, dirigido com a parceira Juliana Rojas, que aqui assume a montagem.

Marco e seus parceiros dos Filmes do Caixote (nome do grupo com quem trabalha desde a faculdade e que os levou a diversos curtas muito premiados, como a jóia Um Ramo) vem solidificando a construção de um universo de suspense psicológico e o contraste entre situações cotidianas e situações insólitas / fantásticas.

Neste filme Marco trabalha bastante dentro do gênero de suspense e terror psicológico e nos remete aos filmes de seu ídolo Shyamalan ou da obra-prima O Iluminado.

Quando eu era vivo (excelente título, por sinal) conta a história de Júnior, um homem de cerca de 40 anos que se separa e retorna à casa do pai. Movimento de anti-vida, de fracasso, desenergia.

As situações cotidianas desse momento difícil são muito bem construídas e preparam muito bem a narrativa rumo às estranhezas.


Sem grandes perspectivas de futuro e com um presente vazio, Júnior se apega ao passado: busca em quartinhos e gavetas lembranças da mãe, morta há tempos.

O pai não compartilha da nostalgia, ao contrário, quer ignorar os acontecimentos do passado e tenta tocar sua vida com planos e energia (se dedica à corrida, musculação e é agilizado em buscar contatos, reuniões e entrevistas no lugar do filho).

No núcleo familiar também há a presença de um irmão, que se vê parceiro de Júnior em gravações em VHS antigas e de quem não se fala muito no presente.

O que vai sendo apresentado dessa trama familiar instiga bastante e todo o elenco está muito bem, do protagonista vivido por Marat Descartes, passando pelo personagem do pai, vivido por Antônio Fagundes

Até figurantes como Lourenço Mutarelli, autor do livro que inspirou o filme - A arte de produzir efeito sem causa.

Porém a trama tem ainda um elemento externo, a estudante de música que divide apartamento com o pai, vivida por Sandy.

Inicialmente a escolha parece interessante: o papel de garota doce funciona para ela. Entretanto o papel não é apenas de uma personagem-caricatura, algo que poderia funcionar perfeitamente num filme de gênero com femmes fatales e afins. Mas há uma transformação e um crescente nos atos da garota que Sandy não acompanha e deixa a desejar.

A trama vai se transformando quando se traz um pouco mais da história da mãe e do irmão, envolvidos em rituais macabros da mãe. E aqui o filme perde um pouco da densidade construída.

Talvez por expor em demasia a personagem de Sandy, talvez por frear um pouco o crescente da personagem de Marat ou por se alongar antes de chegar ao instigante desfecho.

Excelente iniciativa de trabalho de gênero no cinema nacional, que as histórias do Caixote sigam se multiplicando e se adensando!