Quando eu era vivo é o segundo longa de
Marco Dutra, após
Trabalhar Cansa - já comentado no
blog, dirigido com a parceira
Juliana Rojas, que aqui assume a montagem.
Marco e seus parceiros dos Filmes do Caixote (nome do grupo com quem trabalha desde a faculdade e que os levou a diversos curtas muito premiados, como a jóia Um Ramo) vem solidificando a construção de um universo de suspense psicológico e o contraste entre situações cotidianas e situações insólitas / fantásticas.
Neste filme Marco trabalha bastante dentro do gênero de suspense e terror psicológico e nos remete aos filmes de seu ídolo Shyamalan ou da obra-prima O Iluminado.
Quando eu era vivo (excelente título, por sinal) conta a história de Júnior, um homem de cerca de 40 anos que se separa e retorna à casa do pai. Movimento de anti-vida, de fracasso, desenergia.
As situações cotidianas desse momento difícil são muito bem construídas e preparam muito bem a narrativa rumo às estranhezas.
Sem grandes perspectivas de futuro e com um presente vazio, Júnior se apega ao passado: busca em quartinhos e gavetas lembranças da mãe, morta há tempos.
O pai não compartilha da nostalgia, ao contrário, quer ignorar os acontecimentos do passado e tenta tocar sua vida com planos e energia (se dedica à corrida, musculação e é agilizado em buscar contatos, reuniões e entrevistas no lugar do filho).
No núcleo familiar também há a presença de um irmão, que se vê parceiro de Júnior em gravações em VHS antigas e de quem não se fala muito no presente.
O que vai sendo apresentado dessa trama familiar instiga bastante e todo o elenco está muito bem, do protagonista vivido por Marat Descartes, passando pelo personagem do pai, vivido por Antônio Fagundes;
Até figurantes como Lourenço Mutarelli, autor do livro que inspirou o filme - A arte de produzir efeito sem causa.
Porém a trama tem ainda um elemento externo, a estudante de música que divide apartamento com o pai, vivida por Sandy.
Inicialmente a escolha parece interessante: o papel de garota doce funciona para ela. Entretanto o papel não é apenas de uma personagem-caricatura, algo que poderia funcionar perfeitamente num filme de gênero com femmes fatales e afins. Mas há uma transformação e um crescente nos atos da garota que Sandy não acompanha e deixa a desejar.
A trama vai se transformando quando se traz um pouco mais da história da mãe e do irmão, envolvidos em rituais macabros da mãe. E aqui o filme perde um pouco da densidade construída.
Talvez por expor em demasia a personagem de Sandy, talvez por frear um pouco o crescente da personagem de Marat ou por se alongar antes de chegar ao instigante desfecho.
Excelente iniciativa de trabalho de gênero no cinema nacional, que as histórias do Caixote sigam se multiplicando e se adensando!