segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tetro - Coppola


Confesso que não sou especialista de Francis Ford Coppola e dos poucos que conheço posso amar e admirar Os Poderosos Chefões e Apocalipse Now, mas há vários que não dialogam tão intensamente comigo...


Tetro, por exemplo, começa o filme e fico embasbacada com o estilo e classe da direção: um branco e preto lindamente fotografado, trilha impecável, atores me instigando e seduzindo... Mas vai passando o tempo, cenas e cenas sendo sobrepostas e vou me cansando... Começo a achar a linguagem pesada, da trilha à interpretação.



Não diria que é um mau filme, nem por ser e nem pela heresia do meu gosto, o problema é só que não me estimulo a estar tão conectada, não penetro nas entranhas das personagens, que vejo serem complexas, profundas, intensas... 

Provavelmente não mergulho onde Coppola imaginou sua história, literalmente SUA, já que há vários traços autobiográficos... Talvez por isso também haja códigos um pouco fechados, cifrados, auto-referentes...


Não me conecto nem com situações mais cotidianas e intimistas que me soam inverossímeis de tão peculiares que são as personagens;


E me distancio no final com as peculiaridades e exotismos de flashbacks e momentos mais específicos dessa família desequilibrada que relembra o conflito entre dois irmãos músicos, repletos de ciúmes, invejas, arrogâncias... 


E dos filhos de um deles, que perderam suas mães e tiveram problemas com o pai, e se reencontram na charmosa Buenos Aires para tentar entender e superar o passado...



Parece que o passado pesa demais e é intransponível, seja na ficção ou na realidade... Meu palpite de psicologia barata...


O que importa é que, sem dúvida, vale a experiência!
Escassos os momentos no cinema para se admirar uma cinematografia, sentir a mão de um diretor e ainda assim querer cumprimenta-la! A benção, Coppola!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Além da Vida de Clint Eastwood


Definitivamente um cineasta que para mim é irregular. Capaz de filmes que considero grandes obras, principalmente pensando na filmografia recente que conheço mais,  como: Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro ou Gran Torino. Mas ao lado desses vem A Troca, Invictus e agora Além da Vida...



Fui já prevenida de ser um filme polêmico de pessoas que gostaram muito, se emocionaram e das que acharam um novelão ou filme B espírita...

Ou seja, fui bem neutra e aberta.

Me deixei envolver pela história de abertura do casal, as cenas pirotécnicas de um tsunami, a experiência de quase morte da garota. 

(Aí já começam minhas dúvidas sobre o filme, pois é um pouco brega, me fazendo lembrar de Ghost com Demi Moore e Patrick Swayze).



Mas sigo firme... Surgem mais duas histórias, a de um homem que tem um dom/maldição de se comunicar com os mortos. 



E de dois irmãos gêmeos vivendo uma situação difícil com a mãe usuária de drogas e coloca em risco a guarda sob eles, situação agravada quando um deles morre em um acidente.


Essas duas histórias tem grande potencial, mas que não é muito explorado, ou é explorado da maneira mais óbvia, permitindo que o espectador esteja sempre a frente de seus passos, sabendo o que vai acontecer e sem poder fazer suas próprias considerações.


O encontro das histórias também é feito de maneira simplória, com conclusões sem graça.  Mesmo o que já é questionável de tentar dar um viés científico à possibilidade de vida após a morte, (quando fala  de pesquisas sobre experiências de quase morte), mesmo isso fica solto e raso.


E se esse ponto tivesse mais força, talvez me permitiria comprar mais a história e ser mais complacente com resoluções medianas de roteiro...


Que Clint é um bom diretor, isso não resta dúvidas, quanto à sua relação com roteiros, aí já deixa mais a desejar, pois se envolve com os temas e os questiona pouco, criando filmes bem sem graça.
Pois a questão não é de maneira alguma problemas com o tema, ou Invictus teria tudo pra me entusiasmar, mas fica longe...

Talvez o que Clint faça de melhor mesmo é voltar o seu olhar para o universo mais próximo a ele: de homens durões se deparando com situações complexas:

O pai - Sean Pen - de Meninos e Lobos que perde sua filha; o treinador de boxe de Menina de Ouro - ele mesmo - que se apaixona pela menina e pratica eutanasia em nome desse amor; o americano rude e intolerante - o próprio - que vê seus preconceitos questionados a partir da amizade com vizinhos imigrantes; etc.





E que venham outros do velho e bom cowboy!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Árvore - Julie Bertucceli


Referências excelentes: direção de Julie Bertucceli, que é conhecida pela experiência como assistente do mestre Krysztof Kieslowski e como estreante com o simpático Desde que Otar Partiu. Sete anos depois escalou a ótima atriz Charlotte Gainsbourg para seu sensível roteiro A Árvore.

Motivações não faltavam, porém a história que fala sobre uma família que tenta se reestruturar após a morte do pai e as superações da depressão da mãe e a tentativa de resistência e superação das crianças é fraca. 


A família se apóia em uma árvore, pois uma das crianças passa a ver nela o espírito do pai, e a família toda passa a acompanha-la em ver naquele ser um símbolo da figura ausente.




A árvore passa a interferir em momentos decisivos da história: sua seiva cura feridas, seus galhos invadem o quarto da mãe, suas raízes destroem a casa e as tentativas de sequência na vida da família sem a presença do pai.

Porém o que poderia ser feito com sutileza e profundidade (como sempre fazia o mestre Kieslowski) acaba resultando em clichês, obviedades, falta de surpresa, sem gracice...

O filme não é ruim: tem momentos divertidos, bonitos, sensíveis, mas fica muuuuito aquém do que promete...


Mesmo nas atuações: Charlotte acaba repetindo um pouco do seu papel em Anticristo de Lars Von Trier (lá está em depressão assimilando a morte do filho, e aqui do marido, lá ela chega à loucura - em interpretação brilhante - e aqui apenas alcança a superação em situações mais cotidianas); 

As crianças tem sua graça mais pela vivacidade e carisma típicos de um bom casting infantil (em especial Morgana Davies); e a árvore, que tb funciona como personagem, que é incrível esteticamente, mas não tem a presença necessária...

O roteiro manipula todas as informações e mensagens transmitidas, e não fica nada para o espectador.

Não há muita margem para penetrarmos na história, para chegarmos em suas raízes e vermos o florescer de uma poesia. Fica uma novela bem feita, mas um tanto quanto inanimada... Acaba fazendo juz ao título, mas acaba semeando o desejo de que o próximo seja melhor...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Abutres (Carancho) - Trapero

Começar as críticas do ano com um filme tão pesado só vale a pena porque o filme é bem bom.
Pablo Trapero mais uma vez se afirma como um diretor competente e comprometido. 

Já mostrou um universo rico, cheio de tipos, que lembra Pequena Miss Sunshine, mas de forma mais profunda e interessante em Família Rodante. Na verdade lembra até mais o História Real de D. Lynch (apesar do foco aqui ser num tipo solitário, a excentricidade de maneira humana o aproxima da extensa família  de Trapero). 

Em seguida foi a vez de Leonera que apresenta um universo pesado de uma prisão mas pelo por um ponto de vista feminino muito amoroso. Cheio de conflitos, complexidades, angústias, mas de grande aprendizado. Uma grávida que tem seu filho na cadeia e passa pelo despertar da maternidade. Sensibilidade aguçada de Trapero, mas sem dúvida auxiliado por sua mulher, a atriz protagonista do filme, Martina Gusman.

Que inclusive é quem volta aqui em Abutres ao lado de Ricardo Darin.

A história aqui é um romance entre os dois em meio à máfia de seguros de trânsito na Argentina. Exploração, corrupção, coação, homicídios, chantagem, pobreza...
E a sensação de que não há saída, não há redenção, não há respiro...

Filme bom, mas chega a ser sufocante de tão sombrio. É assim não só pelo roteiro angustiante, mas também pela foto e arte escuras e densas, pelo som e montagem pesados...

Também pelas interpretações secas, de pessoas doídas, que sorriem reprimidamente em meio a dores (físicas e psicológicas) e não se permitem dar um respiro de alívio...

E assim que saio do cinema, sufocada pelo filme, com uma sensação ruim e paranóica... Ansiando poder entrar na sala ao lado e ver uma comédia romântica...



Porque esperança também é bom e necessário, até construtivo, eu diria. Mas claro que há momentos para tudo e não é por isso que tiro o mérito de Abutres, de jeito nenhum. Afinal há bastante espaço para carniças, mas também para borboletas por aí...